DE CEITA JOÃO

Title:A TARTARUGA E A ÁGUIA
Subject:FICTION Scarica il testo


Fr. João de Ceita

A TARTARUGA E A ÁGUIA

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Viu a Tartaruga voar a Águia por esses ares com tanta soltura e liberdade, quanta tem a rainha das Aves (fábula é com sua doutrina), e quis ela também fazer o mesmo. Pediu com encarecimento à Águia a quisesse levar ao alto, e tirar daquele poço, onde andava. – Es mui pesada, e impedida de membros e concha, lhe disse a Águia. – Não importa isso nada, respondeu a Tartaruga; que quem tão bem se meneia na água, que faz mais resistência, por ser mais grossa, melhor o fará no ar, que é mais delgado. – Que não tens asas, nem instrumentos para te ter? – Não releva , replica ela, isto quero experimentar. Pera que te pões nesses perigos? lhe pergunta a Águia.

– Porque quero ser conhecida, e não estar toda a minha vida em um poço, ou charco escondido; e se vós voais, também eu. – Alto, vamos ambas acima. – Pega a Águia da Tartaruga, e em a largando, que esperais fosse dela? Caiu, e fez-se em pedaços. E vem o Conto a dizer: Que se não há asas, ou posses, pera que é querer voar ou dar de comer a ventos? Quem vive e se meneia no seu poço, pera que quer ares? Quem na sua herdade ou quinta, pera que quer Corte, ou Cidade? Quem no seu quartau , pera que em coches? Quem no pano honesto, pera que em galas, ou mangas perdidas, senão pera se perder? – Oh! que anda o outro assim, e é costume do tempo e da Cidade! – Quiçá terá asas o outro, com que possa sustentar esse fausto e esse vento; mas quem se não pode bulir mais que uma Tartaruga, porque se não contenta com a sua concha, ou com andar metido nelas?
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